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Uso de biocombustíveis automotivos no Brasil

O uso do etanol como combustível para veículos no Brasil é extenso e tem uma longa história. O Brasil é o país que mais consome biocombustíveis no setor de transporte: etanol hidratado em veículos flex-fuel, etanol anidro misturado com gasolina (de 20 a 27% em volume) e biodiesel misturado com óleo diesel (7% em volume). Em 2015, a quantidade de biocombustíveis no setor de transportes atingiu 20,7% (em energia). Isto está muito além do que acontece com outros países.

uso de energia nos transportes 2015

Embora o uso generalizado de etanol nos anos 70 tenha sido impulsionado por questões macroeconômicas (equilíbrio do comércio exterior do país), seus benefícios ambientais foram logo identificados: um produto renovável, com menor formação de poluentes durante a combustão devido à oxigenação de suas moléculas, bem como a redução das emissões de gases de efeito de estufa.

Quando os motores a etanol foram lançados, tinham clara vantagem ambiental sobre os motores a gasolina, emitindo menos CO, HC e NOx (anos 80 e 90). No entanto, com o uso generalizado de catalisadores de três vias a partir de 1998, isso já não é verdade: as emissões liberadas para a atmosfera após o tratamento dado pelo catalisador são praticamente iguais, independentemente do combustível utilizado (gasolina, etanol ou gás natural). Assim, a importância atual da utilização de biocombustíveis nos motores de combustão interna reside essencialmente na questão da redução dos gases de efeito de estufa, especialmente o CO2.

O futuro do etanol como combustível baseia-se em avanços tecnológicos em todas as etapas da sua cadeia industrial, desde a fase agrícola até o seu consumo em motores de combustão interna. Para que o etanol permaneça competitivo como substituto da gasolina, é essencial que suas vantagens ambientais, técnicas e econômicas sejam preservadas diante dos avanços tecnológicos introduzidos em motores que utilizam combustíveis fósseis. Como exemplo, os avanços obtidos na tecnologia de veículos híbridos plug-in a gasolina com alta eficiência (e, portanto, baixas emissões de CO2) poderiam ameaçar a competitividade dos biocombustíveis na redução dos gases de efeito estufa.

Desde 2003 o Brasil tem observado um enorme crescimento na produção de veículos flex-fuel – isto é, veículos capazes de usar a gasolina brasileira (20 a 27% de etanol) ou o etanol hidratado –  como se observa na Figura abaixo.

Produção de automóveis e a respectiva energia utilizada

Todavia, motores flex não podem ser otimizados nem para etanol e nem para a gasolina: são uma solução de compromisso que, como indicado no próprio nome, possibilitam ao consumidor escolher o combustível que lhe parecer mais conveniente. Motores dedicados ao uso do etanol podem ser otimizados no sentido de explorar características próprias deste biocombustível: maior octanagem, maior velocidade de queima, maior entalpia de vaporização. Desde o início da produção de veículos flex, as montadoras suspenderam o desenvolvimento de motores dedicados a etanol.